terça-feira, 30 de setembro de 2014

Biologia: evolução

Enxergar cores como nós, humanos, é a exceção e não a regra entre os mamíferos. A maioria dos representantes desse grupo é daltônica: possui apenas dois tipos de células fotorreceptoras na retina e não enxerga todo o espectro de cores fundamentais (vermelho, verde e azul). A capacidade de distinguir variadas cores pode ter sido também uma vantagem evolutiva fundamental dos primatas na fuga de predadores. É o que sugere um estudo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) apresentado ontem (28/08) na 29ª Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental, em Caxambu (MG).
Durante muito tempo, a hipótese mais aceita para explicar o surgimento da visão de mais cores entre os primatas pregava que esse traço teria sido selecionado ao longo do tempo como uma vantagem na busca por comida. Enxergar frutos coloridos sobre a vegetação verde seria proveitoso. Outra teoria aponta que a habilidade também seria útil na detecção de parceiros sexuais. Localizar de imediato o traseiro vermelho de uma fêmea de babuíno no cio, por exemplo, colocaria o primata macho na dianteira na disputa por uma parceira.
Esses cenários, no entanto, nunca foram demonstrados na natureza. “Apesar de haver vários estudos mostrando que em cativeiro os tricromatas identificam mais facilmente alimentos coloridos escondidos, não existe evidência disso no campo”, aponta o biólogo Daniel Pessoa, líder da pesquisa da UFRN. “Já na escolha de parceiros, a cor não é o único fator e talvez não seja o mais importante. O brilho das genitálias, que também pode ser percebido por dicromatas, indica igualmente bem o período fértil da fêmea.”

Pessoa supõe que a percepção de mais de duas cores entre os primatas teria evoluído como forma de detecção de predadores. A capacidade de distinguir, por exemplo, entre o amarelado da pelagem de um tigre e o verde da mata seria o fator que explica a disseminação do tricromatismo entre os primatas do Velho Mundo – animais que, embora maiores que os do Novo Mundo, durante milênios conviveram com carnívoros de grande porte.
Já no Novo Mundo, a coexistência de primatas daltônicos e com tricromatismo seria mais interessante. Isso porque, enquanto alguns primatas daqui ganhariam ao ver mais cores e identificar predadores, outros se beneficiariam de uma visão menos colorida na busca por alimentos. “A maioria dessas espécies se alimenta de insetos e é mais fácil localizar insetos camuflados na vegetação quando não há a distração das cores”, explica o pesquisador.
Encontre o predador
Para testar essa hipótese, Pessoa e sua equipe usaram um modelo computacional capaz de prever a visão de cores de várias espécies de primatas com base nas células fotorreceptoras que eles possuem. Com as informações de qual cor cada animal enxerga, o grupo pôde comparar a visão de primatas daltônicos e de tricromatas e a capacidade de ambos de identificar predadores contra um fundo de vegetação verde.
Os pesquisadores mediram a coloração de 28 pontos do corpo de sete predadores – como a onça pintada, a sussuarana e o gato do mato – e também mais de 100 pontos de regiões de mata, incluindo tonalidades de folhas e troncos. A coloração foi medida tanto sob a visão tricromata quanto a daltônica.
O resultado do teste indicou que os tricromatas têm maior capacidade de perceber o contraste entre as cores de predadores e da vegetação.
Outros pesquisadores, porém, veem falhas na tentativa de explicar a evolução da visão de cores com base apenas na predação. O bioantropólogo Maurício Talebi, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp),campus de Diadema, é um deles. Talebi, que estuda a visão do macaco muriqui, acredita que a escolha de alimentos é um processo complexo que deve ser considerado.
“Na natureza, a busca por comida é muito mais do que a mera identificação de cor em uma foto”, diz. “O comportamento animal em liberdade e as variáveis ecológicas também influenciam. Nesse tipo de estudo, temos que levar em conta o fator comportamental dos animais, além de outras modalidades sensoriais, como a audição e o olfato, para entender como cada uma contribuiu na evolução da visão de cores.”
Enquanto ainda há mais perguntas que respostas, Pessoa e equipe continuam as pesquisas e avisam que já está em andamento outro estudo que vai analisar a influência das cores na seleção de parceiros sexuais entre primatas.
(Grupo 2) 

Um comentário:

  1. Parabéns meus estudantes! Estes dois pontos estão mais do que merecidos! Lembrem-se também que este assunto pode ser cobrado nas Ciências Humanas, quando o Imperialismo do século XIX utilizou de ideologia de sociólogos, como a sociedade orgânica e mecânica, para justificar o evolucionismo social e a exploração de civilizações consideradas menos evoluídas! abraços... Yoyô

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